A busca do João,
do Pedro e do Sebastião: o tempo, esse danado fujão.
A falta de tempo
juntamente com o aquecimento global, o efeito estufa e o governo Dilma, é
definitivamente a justificativa mais usada para nos consolar dos nossos
fracassos diários.
Atribuímos toda
a culpa do mundo à falta de tempo. Nossos filhos estão rebeldes porque não
temos tempo para educá-los. Não cuidamos da nossa saúde porque não temos tempo,
afinal temos que trabalhar para pagar justamente o plano de saúde.
Não ligamos para
velhos amigos porque não temos tempo para recordações infrutíferas.
Nunca retornamos
a ligação de nossos pais, deixamos para fazer isso em uma hora mais tranquila,
sem tantas ocupações. Hora que nunca chega.
Viagens, férias,
namoro, só nas brechas entre um compromisso inadiável e outro importantíssimo.
Afinal, temos que trabalhar para termos acesso a coisas boas, de qualidade.
Comemos comida
pronta para nos sobrar tempo, a gente vai de avião, a gente liga depois, a
gente desmarca aquele happy hour!
E tudo isso para
nos sobrar tempo. Mas afinal, como tanto questiona o mestre Mário Sérgio
Cortella: Tempo pra que? Para que estamos usando todo esse tempo que
“teoricamente” nos sobra? Sobra?
O tempo não se poupa,
não se guarda, não se empresta, não se pode vender e fatalmente não se pode
comprar.
O tempo não é um
objeto, é uma ideia de possibilidades, ideia que só nos ocorre com a real
dimensão quando não podemos mais fazer nada respeito.
Você já
agradeceu por não estar com dor de dente? Pois é, mas quando ela vem,
implacável, você só consegue pensar no quanto estava bem sem aquela dor, e é
bem assim que acontece com o tempo: só o queremos de verdade quando não o temos
mais.
Encaramos a
falta do que fazer como entediante, estamos acostumados a enfrentar o ócio como
sendo algo negativo.
Ainda nas lições
de Cortella, o ócio, do latim ottum, é
o tempo livre por escolha. Escolha.
E é bem isso que
precisamos fazer para romper esse círculo vicioso da falta de tempo: escolher,
e escolher bem, escolher melhor o que irá nos prender por horas.
Afinal, o que
terá adiantado manter seu filho na melhor escola da cidade, porque você tem
grana pra isso, se no final do dia estará tão cansado a ponto de não dar um
simples beijo de boa noite?
O que valerá ter
a maior televisão disponível no mercado se você usa esse aparelho para manter
seu filho calado, sem perguntas, sem histórias.
Qual será a
utilidade de uma casa imensa se você só consegue frequentar o seu quarto na
exaustão do final de um dia.
Nada. Esta é a
resposta para todas as perguntas acima, não valerão nada seus esforços se eles
não tiverem por objetivo agregar pessoas à sua vida.
Estamos correndo
muito, tanto e tão depressa que não refletimos sobre a direção dessa corrida,
não sabemos o que queremos, só sabemos que queremos logo e do melhor, e se
possível do mais caro.
O nosso tempo
livre é todo usado para retratar nas redes sociais os raros programas que
conseguimos fazer em prol de nós mesmos.
Potencializamos
esses raros momentos, convencemos os outros que nossa vida é legal, que nossa
vida é boa, que às vezes acabamos nos convencendo também.
Viramos
telespectadores de histórias que não existem, prostrados frente telas, com
trilhões de pixels de resolução, telas grandes e pequenas, onde nossa vida
passa, e passa.
Angélica Marques