terça-feira, 28 de outubro de 2014

# PARTIU

Na era da interação total entre as pessoas, da digitalização das relações, uma questão importante deve ser objeto da nossa reflexão.
A morte geralmente é um fenômeno que mexe comigo em particular, não necessariamente de alguém que eu estime, mas das pessoas em geral.
Foi o que ocorreu dia destes. Primeiro, eu vi no Facebook as lamentações em relação à morte de uma jovem de apenas 35 anos. Em apenas uma postagem que se referia à partida precoce da menina, havia mais de 150 curtidas, vários comentários, ou seja, 150 pessoas que “supostamente” lamentavam o ocorrido.
Até aí tudo bem, a moça era jovem, pela minha superficial análise fora acometida por uma doença ingrata, e era de se esperar a revolta e tristeza de seus “amigos”.
No mesmo dia fui ao velório em razão do falecimento de alguém próximo, logo pensei que o lugar estaria lotado, cheio dos amigos da jovem, aqueles que tanto lamentaram sua partida nas redes sociais.
Para minha surpresa, ou nem tanto, o local estava sim cheio, mas cheio de tristeza, e cheio de ausências.
Havia alguns familiares desolados e alguns curiosos como eu, ninguém mais.
Centenas de mensagens foram deixadas em seu perfil, porém nenhuma pessoa teve a coragem de abraçar aquela mãe.
Centenas de curtidas, centenas de “vá em paz, amada” “descanse em paz, guerreira”. Mas nenhuma lágrima de verdade, somente as dos familiares mais próximos.
O Facebook estava de luto! E a mãe estava sozinha naquela cadeira inóspita.
Aquela cadeira que um dia acolherá a minha mãe, e a sua, e a de todos nós, aquela cadeira que será ocupada pelas pessoas que realmente se importam com você.
Não que as lamentações fossem falsas, ou mentirosas, não é esse o X da questão.
A Questão é que ninguém vive mais de verdade, ninguém ama de verdade, ninguém sequer sofre de verdade.
Conte quantos amigos você tem nas redes sociais. Contou? Agora analise o seguinte: para quem você pode ligar e contar das suas aflições, das suas lutas? Alguém se importa?
Quantos deles te ligarão caso você poste que não está bem de saúde?
Quantos deles respondem o seu bom dia, ou lhe ofertam um?
É isso, mais uma vez está constatado que estamos vivendo como em um folhetim, e no final do dia somos todos seres solitários.
Somos notícias vazias, gostamos de frases bonitinhas, e assim nos resumimos a cada dia.
Não conseguimos dar valor a quem está perto de verdade, não conseguimos mais manter relações verdadeiras.
Quem se importa de verdade com você, já parou para pensar nisso? E mais do que isso, você já parou para dar atenção a essa “meia dúzia” de pessoas que ocuparão aquelas cadeiras inóspitas?
Quem vai estar lá quando alguém publicar que você #partiu?

Angélica Marques


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

POST LUTE!

Alcança teus objetivos, lute como puder do seu jeito, com suas próprias armas. 

A partir do momento que sua luta é legítima ninguém questionará as tuas vitórias.


Angélica Marques

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Dispa-se!

Estamos tão acostumados a nos vestir de super-heróis que às vezes esquecemos de voltar para nossas vestimentas originais.
Somos quem somos de verdade, somos também o que pensam de nós, somos o que acreditamos ser e às vezes somos aquilo que esperam da gente, e isso é um pouco confuso, tanto para ler, quanto para administrar no dia a dia.
Como chefes de uma família não podemos titubear, demonstrar fraquezas ou medos, pois se assim agirmos estaremos enfraquecendo as pessoas que conduzimos.
Como filhos, nunca devemos demonstrar sofrimento demais, pois isso arrebataria o coração dos nossos pais, que sofrem dobrado pelas nossas angústias.
Já como pais, devemos mostrar naturalidade diante dos percalços dos nossos pequenos, para incentivá-los a serem fortes e não se deixarem abater por pouco.
Diante da sociedade devemos parecer felizes e diante dos nossos pares nem tanto, a fim de que nos proporcionem mais afeto, mais colo.
E assim seguimos nossas vidas representando papéis, vivendo em várias peles, em vários mundos, em várias cores.
Acontece que não somos o que parecemos ser. Não somos o que os outros querem, não somos o que queremos e menos ainda o que acreditamos ser.
Nós somos a soma de tudo que vivemos e tudo que nos fizeram, e essa fórmula não está nos livros de química e nem em qualquer outro manual, essa fórmula é uma fórmula surpresa que um dia explode à nossa frente.
Sabe aquela apontada de dedo que alguém te mostrou olhando bem nos teus olhos? E que você jurou não ter te afetado. Pois é, afetou sim, e quando você menos esperar vai doer, e vai te incomodar como se tivesse acontecido horas atrás.
Aquela palavra áspera, a ausência da resposta que você tanto esperava, o abraço menos apertado que te deram, quando você esperava muito mais.
Tudo o que passamos se não foi bem resolvido vai voltar, e voltar de forma cruel, castigando pela demora, como se fosse um acréscimo de juros pelo tempo de espera.
Já vi homens fortes chorarem por tão pouco, coisas tão pequenas, e enfrentarem avalanches com o peito aberto.
Mulheres fortes e cheias de atitudes clamarem pelo único beijo que não lhe foi dado, o beijo de um pai, o abraço de um irmão.
Todas essas contas nos serão apresentadas, e no momento mais inoportuno possível, bem quando nossas janelas estiverem abertas, bem quando nossos telhados forem de vidro.
Não deixe amanhecer. Não deixe o dia passar, muito menos os anos, menos ainda uma vida inteira.
O grito que não sai da tua garganta pode te sufocar. Se não gostou, grite. Reclame proteste.
Se achou pouco o que lhe deram, peça mais, reivindique seus direitos, seus amores, seus abraços e até aquele tapa que no fundo você sabe que mereceu.
Não deixe a mágoa escurecer a sua visão do mundo, a sua visão sobre as pessoas.
É bem mais fácil perdoar as palavras que foram ditas aos gritos do que as que as abafadas pelo silêncio.
Deixe transparecer as tuas feridas, para que alguém possa vir e curá-las.
Não se faça de forte por muito tempo, isso é muito cansativo e só vai ferir a você mesmo.
Entre em repouso, respire e se deixe cuidar, se deixe parecer fraco, se deixe perder algumas coisas, às vezes é preciso perder.
Dispa-se das suas armaduras e coloque os teus pés no chão, olhe para você mesmo e se aproxime de quem você é de verdade.
Devemos ser mais o que somos e menos o que esperam de nós.


Angélica Marques

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

MENINOS SEM PAI

Dia desses me peguei pensando em uma coisa que me assustou muito, o futuro dos nossos meninos.
Antigamente (meu Deus!) existia um certo código a respeito do destino dos meninos, eles eram iniciados na vida profissional, não muito cedo, mas na hora exata.
Na família sempre havia um profissional disposto a ensinar o oficio aos pequenos, os tios mecânicos recrutavam para lavar peças, toda a rapaziadinha da família, aos poucos os meninos começavam a ganhar melhor e logo estavam oficialmente iniciados e responsáveis, e logo capazes de prover suas próprias necessidades.
E assim acontecia em várias áreas, sempre alguém que já dominava o ramo, trazia vários dos seus para um oficio digno.
Bom, dito isto surge a minha preocupação. Nos dias de hoje raros são os profissionais em quem podemos confiar, mais raras ainda as pessoas que estão dispostas a transmitir de forma leal algo que sabem.
Isso somado à má qualidade da educação que temos em nosso país, é realmente algo muito preocupante.
Se não há mais pessoas dispostas e capacitadas a ensinar e o acesso à educação de qualidade é cada vez mais restrito a quem pode pagar, e pagar muito, que tipo de homens estão sendo formados?
O que serão nossos jovens? Quem serão? O que farão e o como vão ganhar a vida, sustentar suas famílias?
A incapacidade para se manter e manter uma família não impede que esses jovens constituam famílias, ou simplesmente tenham filhos. E essas pessoas estão cada vez mais à margem de acessos básicos como saúde, saneamento, e tantas outras coisas, sem mencionar as necessidades emocionais, o que tranquilamente daria outro artigo.
Estamos frente a uma geração sem oportunidades, uma geração que nem se deu conta de que a juventude não dura pra sempre e que uma hora ou outra, mais cedo ou mais tarde terão que parar de usar boné de aba larga e vestir-se para o trabalho.
Essa geração wi-fi ainda não se deu conta que são desapadrinhados, que estão às margens de uma sociedade que não enxerga.
Mas isso pelo jeito preocupa somente a mim mesma, pois as novelas e os programas de TV só enfatizam o contrário, banalizam costumes e princípios familiares como se isso fosse uma coisa boa.
Estamos frente a um futuro tenebroso, onde o jovem não tem senso crítico, muitas vezes nem o senso propriamente dito.
Nascem cada vez mais, filhos de pais que não tiveram pais, filhos de uma geração que nada aprendeu, e sendo assim nada podem ensinar.
Filhos do descaso e do abandono intelectual, sem mencionar as outras tantas faltas que assolam nossos meninos.
Meninos sem pai, meninos sem pátria.

Angélica Marques