sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PERDÃO

Perdoem a sinceridade, mas o tal do perdão é muito mais fácil de pedir do que dar. Aliás, como a maioria das coisas.
Pedir perdão virou um gesto banal, as pessoas pedem porque aprendem desde pequenas que quando alguém não fica feliz com sua atitude você deve pedir perdão.
Crianças pequenas às vezes costumam morder umas as outras, a mãe em um gesto de desespero corre no cenário da agressão e logo ordena ao pequeno: peça perdão!
Está ai o erro de convicção, aprendemos que pedir perdão é como uma borracha gigante no erro que cometemos. Mas não é.
Pedir perdão não apaga o mal que se fez, não diminui a dor que causamos. Na verdade pedir perdão no automático é uma extensão da atitude errada que acabou de acontecer, não ajuda em nada, e até piora.
Muitas pessoas acham que a grande questão no ato de perdoar está no ofendido, acham que dar o perdão é bem mais difícil do que pedir.
Tenho pra mim que as coisas não bem assim. Já deixei de perdoar muitas vezes porque não acreditei na veracidade do gesto, não senti o arrependimento no pedido.
Não que exista uma formalidade para isso, mas acredito que quando praticado indiscriminadamente pode piorar muito as coisas.
As pessoas se desculpam sem saber a verdadeira dimensão do que estão fazendo realmente.
E assim também age aquele que aceita o pedido sem realmente ceder.
Pedir perdão é convencer o outro que a ofensa praticada foi injusta. Pedir perdão é convencer o outro que naquele momento você entende a dor que causou e que jamais repetiria o ato intencionalmente.
Pedir perdão e se compadecer e assumir uma postura de reparação imediata.
A reparação pode vir de várias formas, por vezes um olhar certo e verdadeiro pode ser considerado legitimo, e ter mais peso que certas palavras.
Muitas vezes quem nos magoa ou nos agride, se arrepende, e mesmo assim não vem na hora se retratar. Mas assistimos aquela pessoa que outra hora estava no ataque a praticar atos de reparação, o que para mim é muito mais valioso, pois saímos do campo das palavras e entramos no campo das atitudes.
E é bem isso que devemos a quem ofendemos e magoamos. Atitudes.
Não peça perdão, faça por merecer.


Angélica Marques 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

UM EX-AMIGO

Um ex-amigo
 Os amigos certamente existem para nos ajudar a suportar certas fases da nossa vida sem enlouquecer completamente. Embora eu tenha alguns que colaboram com minha insanidade.
Algo nos leva a eleger uma pessoa entre tantas somente para “querer bem”, a amizade é um amor diferente, maior, menor, enfim, a amizade é um sentimento muito doce que se preservado pode nos proporcionar momentos ótimos de cumplicidade.
Conheço muitas pessoas que trocam muito de amigos, ora estão com uma turma, ora com outra, e quando questionadas sobre os velhos amigos simplesmente dizem que se afastaram.
Não vejo problemas em conhecer novas pessoas, em estar com novas tribos, mas eu particularmente tenho poucos amigos, contabilizo em uma de minhas mãos.
Essas pessoas que elegi como amigos de verdade são pessoas totalmente diferentes, nunca notei nenhum traço de semelhança na personalidade delas, a única coisa em comum é que são absolutamente amadas.
A primeira pessoa eleita compartilha comigo a minha vida há mais de vinte anos, e as outras estão também nesta faixa.
Eu me questiono se ficamos mais seletivos com o passar do tempo ou se as pessoas andam fechadas para esse tipo de relacionamento.
Quando temos um amigo de verdade, tudo nele nos afeta, todo o sofrimento que essa pessoa passa nos atinge, nos aflige, queremos realmente o seu bem.
Diferente do amor entre homem e mulher, em que a única coisa que nos interessa é a presença física do ser amado, estando ele feliz ou não.
No entanto, mesmo tendo vivido boas fases da vida ao lado dessas pessoas, essa relação passa por muitas mudanças, e isso nem sempre é bom.
Nós, seres humanos, estamos submetidos a uma série de desafios diários, experiências e sofrimentos que nos moldam, e vão construindo, ou destruindo, nosso caráter.
Essa construção é individual e intransferível, mesmo você estando dia a dia com alguém certamente irão evoluir de forma distinta, cada um em seu ritmo.
E, um belo dia, em um bate-papo informal com essa pessoa tão querida, você percebe que as afinidades já não existem e que não partilham mais dos mesmos pontos de vista.
Isso é geralmente um choque, sofrível por vezes, afinal essa pessoa é parte de você.
Diz a escritora Danuza Leão que é necessário um “recadastramento” dos amigos, assim como em bancos. Quando li a frase, discordei completamente, porque levei ao pé da letra. Mas hoje, guardadas as devidas proporções, acho que o dia a dia se encarrega desse recadastramento, a seleção é inevitável.
Velhos amigos são um privilégio, porém devemos lembrar sempre que cada um teve suas experiências e suas próprias batalhas.
Não devemos esperar que nossos velhos amigos estejam sempre antenados com as nossas ideias e com os nossos ideais de vida, afinal, o caminho percorrido foi diferente.
E a dica não poderia ser outra, seja razoável com seu julgamento, tente entender que tudo muda e seu amigo não é diferente das outras pessoas.
E para finalizar, não espere que o outro faça o mesmo por você, afinal, estamos falando de um ex-amigo.