Eu não tive muitas oportunidades em se
tratando de educação básica. Mudei de cidade durante o Ensino Médio umas quatro
vezes, e de escola perdi as contas, e isso me causou sérias deficiência em
alguns princípios básicos da nossa gramática.
Já adulta, tive a oportunidade de
estagiar com uma pessoa muito generosa que me ensinou muitas coisas, tanto para
minha futura vida profissional quanto em relação a erros de convicção que eu
trazia de longa data.
Um dia essa pessoa me corrigiu em
relação ao uso correto do “mas” e do “mais”, me explicando pacientemente a
função de cada um. Meu amigo discorreu longos minutos na explicação que me fez
diferenciar um de outro.
Deixo aqui meus agradecimentos a esse
generoso amigo, que entre tantas coisas, me ensinou também a usar corretamente
essas duas palavrinhas.
Dia desses esqueci a gratidão e pensei
que talvez essa lição não tenha sido tão boa assim.
Pensei que talvez eu pudesse mesmo viver
achando que um e outro no final eram a mesma coisa, e não tendo jamais que
pensar como o emprego de um mas, poderia ser pesaroso enquanto o emprego do
mais, na maioria das vezes, era bem positivo.
O “mais” é uma palavra que acrescenta,
que agrega, que traz alguma coisa junto a outra. Me parece ótimo!
Mas, o “mas” é a palavra mais triste que
eu já conheci em toda minha vida. O “mas” antecede todas as renúncias que
fazemos ao longo de nossas vidas.
Essa palavra de três letrinhas apenas
nos faz frear, nos faz desistir e nos faz enterrar sonhos que jamais seriam
enterrados não fosse a existência desse bendito “mas”.
Quantas vezes começamos uma frase tão
bem, explicamos o tanto que queremos algo, com os olhos sorrindo, gesticulando
e, de repente, o sorriso do olhar se vai, os ombros assumem outra postura e
tudo dá lugar a um “mas”.
Quantas vezes isso aconteceu na sua
vida?
Quantas vezes ao dizer “mas” você deixou
de viver algo a mais?
É sempre assim. Nascemos originalmente
alados, mas nossas raízes acabam crescendo e nos impedindo de alçar alguns
voos, no início somente os mais ousados, mas quando nos damos conta estamos com
medo até dos pequenos voos.
E de repente estamos apenas caminhando,
seguindo o fluxo, fazendo igual ao que todos fazem.
Logo depois a caminhada desacelera e
passamos a calcular milimetricamente nossos movimentos, a fim de evitar quedas,
e quando nos damos conta estamos rastejando sem direção, sem perspectivas, rumo
a qualquer lugar.
Nós nos esquecemos de que, embora a dor
da queda possa ser grande, o prazer da tentativa existe e é um combustível para
a nossa existência.
A certeza de um caminho pleno e sem
sobressaltos pode arruinar esse caminho, por mais belo que ele seja.
A vida em si e nossa natureza nos levam
mesmo a desacelerar, mas devemos ficar atentos para não parar de vez, cuidar
para que nossas vidas tenham muito mais “mais” do que “mas”.
Angélica Marques
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