segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

TESTAMENTO

T

alvez seja um pouco cedo, mas, por via das dúvidas, quero deixar aqui registradas as minhas declarações de última vontade.
Primeiro, registrar que não tenho mais medo de morrer, não mais, eu já tive um dia, mas hoje penso diferente.
Penso que morrer deve ser uma espécie de prêmio, levando em conta que só gente bacana “anda” morrendo.
É claro que Deus mascarou um pouco esse “evento morte”, pois, se assim não fosse, nós, mortais, não teríamos paciência para aguardar a nossa vez, o nosso chamado.
Deve haver um plano grandioso do nosso Deus em relação ao “lado de lá”, pense bem, olhe o time que Deus anda reunindo, não é piada não, é só observar que qualquer um chega a essa conclusão.
O céu nem deveria ser tão bom assim, mas agora anda cheio de graça, poesia, boa música e, em minha opinião particular, muito bem frequentado.
Todos nós perdemos pessoas queridas, todos nós olhamos para cima uma vez ou outra, tentando entender o porquê de tanta saudade e de não conseguirmos enxergar coerência no rumo das coisas. Natural.
Bom, voltando as minhas declarações.
Deixo, para meus familiares mais próximos, toda a postura e retidão que me ensinaram as duras penas, com seus exemplos e condução amorosa.
Deixo, aos meus amigos de infância, todas as gargalhadas que me oportunizaram, deixo aquela água na boca de quando recebíamos a mais tola guloseima, e por fim deixo também a boa lembrança do nosso primeiro bichinho de estimação.
Aos amigos que conheci mais adiante, deixo todo friozinho na barriga do primeiro amor e a euforia de quando este por vezes foi correspondido, deixo também a sensação de liberdade ao pegar pela primeira vez em um volante de um possante qualquer.
Ao meu grande amor, deixo a sensação inebriante de quando o encontrei pela primeira vez, e pela segunda, e provavelmente pela última, deixo ainda o levitar do primeiro beijo.
Aos meus filhos, deixo o silêncio de quando os vi nascer, deixo a calma de quando os alimentei pela primeira vez e o orgulho de seus primeiros passos.
Aos que passaram suavemente pela minha vida, deixo o sorriso que trocamos; para os que ficaram um pouco mais, deixo um milhão desses sorrisos.
E a você, meu querido leitor, deixo uma pergunta somente: O que você vai deixar para as pessoas que o amam?
Qual é o seu legado?
O que você reuniu na vida, pelo que você está lutando?
“O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você troca por ela” (Henri Thoreau).
Ando pensando sobre o quanto de vida ando deixando em coisas sem valor real.
E você, quanto tempo faz que não come uma manga sem faca ou anda com os pés descansos?
Espero que cada um fique feliz com o que lhe coube neste testamento, é tudo que eu tenho e é o melhor de mim, foi tudo de melhor que eu fiz.

Eis o meu legado: lembranças e sensações, todas compartilhadas com pessoas importantes.

Angélica Marques


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