terça-feira, 12 de agosto de 2014

UM SALVE A INFELICIDADE E A MELANCOLIA!

U
M SALVE A INFELICIDADE E A MELANCOLIA
Os maiores escritores do mundo eram infelizes, frustrados e falhos aos olhos da sociedade em geral, os poemas mais profundos de sensibilidade irretocável foram escritos em meio a tormentas psicológicas de seus autores.
Quadros mundialmente famosos foram criados em ambientes com pouca luz e inspirados pela solidão de artistas quase sempre desolados por alguma tragédia pessoal.
O que me leva a concluir, neste contexto, que gente feliz não produz, não cria, não desenvolve nada de relevante.
Com essa premissa devemos então ver a melancolia e a infelicidade como um excelente combustível.
Gente feliz não tem o menor interesse em realizar mudanças, isso porque para essa pessoa tudo está bem e não há necessidade de buscas, não há necessidade de descobertas, alterações.
Quando passamos por um grande trauma, seja na vida sentimental, familiar, ou mesmo na vida financeira, geralmente a primeira decisão a ser tomada é dedicação exclusiva ao trabalho, ou a outra esfera da vida que esteja fluindo bem, e sendo assim uma quantidade absurda de energia é deslocada para esse setor, fazendo brotar grandes obras, grandes feitos.
Não é possível que alguém descreva um sentimento com fidelidade sem experimenta-lo, sem ter passado por suas ruas, sendo assim para atingir profundidade, conhecimento sobre algum tema, não basta saber a respeito, ou ouvir falar, tem que sentir na pele, tem que sentir o cheiro, ver a cor e sentir o amargo.
Observando as famosas pinturas de Van Gogh notei a repetição de autorretratos e também de sapatos velhos, com certeza os sapatos lhe pertenciam, sendo assim, havia ali uma tentativa de exposição pessoal, tanto que no auge de sua loucura o pinto cortou sua própria orelha para reproduzi-la com mais fidelidade, meu Deus! Isso é que é tentativa de exposição.
Mas penso que não seja só isso, e esse ato de exposição não seja tão incomum, vejo nos poetas, por exemplo, que sua escrita nada mais é do que a exposição de suas dores, como se o sofrimento fosse condição imprescindível para a produção de seus lindos versos.
A arte também é amiga intima dos loucos e desequilibrados, em 2013 tivemos em uma mostra importante no Rio de Janeiro da japonesa Yayoi Kusama, de 84 anos, que vive há mais de 30 anos em uma instituição psiquiátrica em Tóquio, por iniciativa própria.
Yayoi é hoje a terceira artista mulher que mais lucra com sua arte, a artista é tão afetada psiquiatricamente falando, que sua obra e finanças são controladas por um curador.
Realmente os artistas, poetas e talentos de diversas áreas são mesmo providos de sentidos incompreensíveis aos olhos comuns.
Vejo uma lógica muito clara entre as belas produções e o mundo paralelo de seus autores, é claro que para se dedicar a algo tão abstrato é impossível ter os pés cravados no solo, vivemos tanto tempo preocupados com compromissos e obrigações que raramente olhamos para dentro de nós, e é lá em nosso interior que mora toda e qualquer capacidade de criação ou mesmo simples contemplação.
Existe um poema que infelizmente não me recordo à autoria em que o escritor narra uma linda experiência na qual se aproximou de Deus com todos seus sentidos, olfato, paladar, tato enfim todos, o poeta narra uma situação onde passou a ver o mundo com outros olhos, a existência de borboletas, barulhos que antes eram ignorados por sua rotina corrida e outras sensações maravilhosas.
Quem conduziu essa expedição encantadora fora se neto, que através dos pequeninos dedinhos apontava para chamar a atenção do avô sobre a existência de pequenos insetos flores minúsculas e outras coisas de tamanha simplicidade que ignoramos no nosso dia a dia.
Esse poeta viveu quase no fim de sua vida uma experiência maravilhosa, que foi retomar nossos extintos mais primitivos, aqueles com os quais nascemos e vamos perdendo ou alterando negativamente com o passar dos anos.
Tenho que a loucura nada mais é do que a mais pura lucidez, dar importância somente ao que extremamente essencial, com a característica claro de ignorar parte de coisas importantes.
Então vamos todos a partir de agora torcer para que os brilhantes sofram e amem loucamente, experimente paixões avassaladoras e amores impossíveis e que os idiotas continuem sempre felizes, para o equilíbrio da arte e do mundo literário.
Encerro com as palavras de um escritor Português que gosto muito, Pedro Chagas Freitas.
É por causa dos que vivem na Lua – só por eles – que vale a pena viver na Terra.”
in "A LEI DE CHAGAS, livro de aforismos e de mentiras universais"
Simples assim.


Angélica Marques



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