As cartas que não
mandei.
Para onde será que vão
todas as palavras não ditas, as cartas não escritas, ou não enviadas, e as
lágrimas que não caíram, para onde vão, onde ficam guardadas?
A quem diga que todas
estas coisas causam o famoso nó na garganta e dele brotam os males que abatem
nosso corpo.
Penso que deveria ter
um lugar para onde pudéssemos enviar certas coisas, pois acredito que os sentimentos
aprisionados causam mesmo doenças, as emocionais evidentemente e até mesmo as
físicas.
Sendo assim poderia
haver um endereço, e para ele remeteríamos todas nossas correspondências que
não podem chegar ao destino pretendido.
Deveria ter alguém de
plantão vinte e quatro horas por dia, para ler nossos e-mails, aqueles que
apagamos após escolher minunciosamente cada palavra, e depois por conta do bom
senso deletamos.
Essa pessoa deveria ler
e se compadecer da dor do remetente desconhecido.
Deveria haver uma
central de assuntos que não podem ser discutidos, aqueles que causam dor demais,
um telefone onde cada um pudesse ligar e dizer o quanto está triste ou sozinho
naquele instante, e sendo assim do outro lado da linha haveria uma voz que
responderia a todas as queixas apenas com um tom doce e calmo dizendo: - eu
entendo, sem perguntas, sem críticas, sem julgamento.
Deveria mesmo haver
essa voz para nos acalentar todas as vezes que não somos capazes se quer de
derrubar uma lágrima, uma voz invisível, sem corpo e sem alma, só uma voz.
Para todas as palavras
não lidas, para todas as cartas e para todas as lágrimas, um minuto de silêncio
em um evento importante, somente para ter ali milhares de pessoas cientes de
que alguém em algum lugar sofre, não um sofrimento qualquer, mas um sofrimento discreto,
um sofrimento secreto, calado.
As palavras que temos
em nosso coração para uma determinada pessoa pertencem somente àquela pessoa, e
muitas vezes jamais poderemos dizê-las, ou por orgulho ou por dignidade, mas,
mesmo não dizendo elas ainda existem, e não morrem, só dormem, ficam ali a
espreita para soar bem alto em nossa consciência no momento mais inoportuno
possível.
Eu queria muito ouvir
todas as palavras que a mim não foram ditas, por mais duras que elas pudessem
ser, eu aguentaria, ou não, mas eu as teria.
Quando percebemos que
em uma fala há muito mais do que está sendo dito o caminho é um só, a
imaginação, a divagação, e ambas são péssimas conselheiras.
Na ausência de um texto
completo e que nos faça sentido, automaticamente começamos a completar as
lacunas, e completamos claro da maneira que melhor nos convém, e é claro que
tudo se distorce, e nascem os grandes maus entendidos, nascem as grandes
confusões.
Mas tudo isso não
significa que estão livres de problemas aqueles que falam tudo que lhes vem à
mente, não se trata de quantidade e sim de qualidade, falar tudo que se deve
para quem se deve, e principalmente no momento oportuno, no momento certo.
Não é difícil adoecer
deste nó na garganta, é mesmo bem difícil se colocar de forma clara e limpa
diante do outro, isso exige muita renúncia, exposição e doação, não é para
todos.
Escolhemos palavras
para expressar não aquilo que sentimos, mas aquilo que queremos que o outro
acredite.
Escolhemos palavras
para mascarar nossos sentimentos, como se as palavras certas fossem capazes de
nos proteger do profundo olhar daquele que nos conhece, mesmo sabendo que, quem
nos conhece de verdade não precisa de uma palavra se quer para ler tudo que
estamos sentindo.
Ainda acho que um
endereço seria a solução para os tantos nós que adquirimos, pois por muitas
vezes a única coisa que precisa um coração ferido é que alguém o escute, e que
enxergue o tamanho da fenda que ele possui.
Angélica Marques
Realmente, acredito que na maioria das vezes deixamos de ser nós mesmos ao renunciarmos nossas palavras, sentimentos. Para podermos agradar, não ofender ou até mesmo minimizar a recepção de quem ouve.
ResponderExcluirCarol Martins.