segunda-feira, 16 de junho de 2014

O DIREITO DE DIZER NÃO


Sim, somos abençoadas com a dádiva de gerar outra vida.
Sim, existem milhares de mulheres no mundo que sofrem por não poder ser mãe, e outras milhares que sofrem pela pressão para que sejam.
O direcionamento é algo que evito, mas neste caso o bate papo é mesmo para as Luluzinhas.
Nós, as Luluzinhas, somos capazes de executar qualquer tarefa, inclusive as que demandam força física, já está mais que provado que a igualdade é uma questão de lógica e não só de direitos.
Nós podemos fazer tudo, saímos, bebemos, ficamos ricas por mérito próprio, cumprimos jornadas de trabalho de 44 horas semanais e ainda cuidamos de um milhão de assuntos paralelos, sem contar no retoque da progressiva, academia, etc.
Agora algumas mulheres, e não são poucas, clamam pelo direito de “Não fazer” algumas coisas, e uma dessas coisas é a maternidade.
Não estou minimizando a “missão” porque é sim uma missão! Só acho que direito do não é legitimo, assim como qualquer outro.
Esse não, não é não a uma carinha bonitinha e fofa, a um cheirinho inesquecível e tantas outras coisas incríveis, é dizer não a interromper uma vida profissional, muitas vezes tão suada, é dizer não a ter mudanças drásticas em seu corpo em benefício de outra pessoa, é dizer não a ser “eternamente” responsável pela vida de outra pessoa.
Algumas pessoas diante de uma mulher que diz não querer ser mãe, logo questionam: Mas você não pensa no futuro?
Pois bem, acho que para ter um posicionamento desses é necessário exatamente pensar no futuro, ter um filho não é ter um bebê, ter um filho é ter outra vida vinculada a sua, e isso definitivamente é um projeto muito grandioso.
Conheço algumas pessoas que tomaram, e outras que estão em busca desta resposta.
Ter ou não Ter, eis a questão, e o que vejo é o inicio de uma luta, mais uma em nosso histórico, uma luta para ter o direito de não querer algumas coisas.
Essa pausa que temos que dar para conceber uma criança é uma pausa que nos custa muitas coisas em nossa vida pessoal, não quero tratar de valores e sim de prioridades somente, e juro nunca mencionar os milhões de quilos adquiridos.
Uma gestação dura aproximadamente 40 semanas, vamos então a uma conta rápida, as 12 primeiras semanas são definitivamente apagadas de nossas vidas, tontura, sono, impossibilidade total de se alimentar, praticamente nos deixam impossibilitada de exercer qualquer atividade.
Ora essa! Como assim, somos mulheres! E outra, o que são 12 semanas comparadas ao prazer de ser mãe?
Respondo. Essas doze semanas realmente é um pequeno dessabor que temos que enfrentar para o grande prêmio, mas pense, qual seria o impacto dessas doze semanas para uma mulher que tomou essa decisão forçada, praticamente induzida por familiares e amigos, onde estarão estas pessoas na hora dos enjoos matinais?
Vamos então as últimas oito semanas, essas sim deveriam ser chamadas de missão, “esperar um bebê” esperar... esperar...
Juro não mencionar o cárcere privado e também o inchaço nos pés e no nariz, também não acho justo trazer para essa pauta o andar sedutor que adquirimos, então não mencionarei.
A cada dia que passa mais mulheres ponderam os pros e os contras da maternidade, não estou levantando nenhuma bandeira e nem tentando exercer controle de natalidade, só acredito que todos temos o direito de escolher o rumo da nossa vida.
Um casal que não tem filhos não é pior do que um casal que decidiu ter filhos e terceiriza a educação das crianças.
Decisões que não são ponderadas é um acidente de percurso, e como humanos que somos, tendemos a corrigir a rota, e com certeza os maiores prejudicados não seremos nós, mas sim os pequeninos que são nos dias de hoje órfãos de pais vivos.
A maternidade e também a paternidade é um ato de coragem, e também uma mudança no estilo de vida, uma mudança de ideais, uma mudança permanente, e é necessário muito planejamento para isso.
Não se trata de querer ou não ter filhos, trata-se de ter ou não competência para atuar na formação de uma pessoa, e não somente provendo suas necessidades financeiras, mas sim suas necessidades emocionais e espirituais.
Competência! Trata-se de ser ou não ser competente para administrar outra vida além da sua.
Talvez devêssemos olhar para os casais que optam por não ter filhos com menos espanto e com mais admiração, pois no mundo em que vivemos pensar sobre trazer alguém pra cá ou não é um ato de muita consciência.
Amo meus filhos e a cada dia eles me trazem razões maiores para ser uma pessoa melhor, isso é muito gratificante, valeu a pena cada uma das tenebrosas semanas que passei, e passaria novamente cada dia da gestação de cada um deles.
Enfim, acredito que um dos nossos maiores desafios é ser capaz de ser feliz sem necessitar de outra pessoa, seja ela quem for, é muita irresponsabilidade atribuir sua felicidade ou a falta dela a um terceiro.
Ser ou não ser mãe, ser magra ou gorda, ser vegetariana ou não, praticar exercícios ou não, a questão é uma só, quem manda na sua vida? Quem decide o que melhor para você?

Angélica Marques


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